A génese da obesidade não é difícil de encontrar: «em termos gerais podemos dizer que este fenómeno se deve a dois tipos de factores: uma alimentação mais calórica e mais desequilibrada e uma diminuição do exercício físico em crianças e jovens», considera o presidente da Secção de Pediatria do Ambulatório da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), José Luís Fonseca.
O parecer dos nutricionistas João Breda e Ana Rito é corroborante: a essência da obesidade, nomeadamente a infantil, «está, seguramente, relacionada com padrões de comportamento alimentar caracterizados pelo elevado consumo de calorias (açúcares e gorduras) e, paralelamente, por dietas cada vez menos ricas em cereais completos, hortaliças e frutos, para além de reduzidos níveis de exercício físico».
Em relação à (in)actividade física, o Centro de Investigação Obesidade Online da Fundação Bissaya Barreto considera mesmo que, em Portugal, a situação é «dramática». «Os portugueses não sentem vontade de se exercitar: 60,2% de adultos não praticam qualquer tipo de actividade física, e são os que se exercitam menos na Europa". Claro que – nem seria preciso acrescentar – "pais pouco activos têm maiores probabilidades que os seus filhos sejam igualmente crianças com baixo nível de actividade física", reforça a Plataforma de Luta Contra a Obesidade.
Ainda que outros factores possam, também, contribuir para o excesso de peso – nomeadamente genéticos, culturais e hormonais - «aqueles que podem ser preveníveis, como a má alimentação e a falta de actividade física, desempenham um papel primordial na obesidade infantil e nas suas co-morbilidades [doenças associadas]», reforça o pediatra José Luís Fonseca.
Se houver um acompanhamento continuado e precoce, «qualquer médico de família ou pediatra sabe dar as indicações muitas vezes necessárias e suficientes para que tudo corra pelo melhor», refere José Luís Fonseca. «Se se deixa resvalar, então, muitas vezes é necessário recorrer a um especialista da área».
Contudo, «o tratamento da obesidade infantil é, normalmente, um processo de correcção dos hábitos de vida, principalmente quanto à alimentação e à prática do exercício físico», esclarece o pediatra. «Outras medidas, como as medicamentosas ou a colocação de bandas gástricas, são quase exclusivamente terapêuticas do adulto».
«O sucesso depende grandemente da ajuda dos pais, ou de outras pessoas que sejam próximas do jovem», lembra o Centro de Investigação Obesidade Online. «A família é a primeira a decidir que alimentos ingerir, assim como a forma de confecção e o tempo e ambiente em que a refeição é servida. Estas pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença na saúde das crianças».
Será preciso dizer que hábitos alimentares devem ser adoptados? A Plataforma de Luta Contra a Obesidade lembra: consumir alimentos «de elevado valor nutricional, que assentem numa grande variedade alimentar, maioritariamente de origem vegetal»; «substituir carnes gordas e produtos cárneos por leguminosas, peixe ou por carnes magras»; «controlar a ingestão de gordura (que não deve contribuir com mais de 30% do total energético diário) e substituir a maioria das gorduras saturadas (como a manteiga) por óleos vegetais insaturados (como azeite)»; «reduzir o consumo de doces e bebidas açucaradas». E, acrescentamos nós, limitar a tão famosa fast-food...
Além de uma grande influência nos hábitos alimentares da criança, a família também tem uma palavra a dizer no que concerne à prática de actividade física. Aquele organismo da DGS sugere que se encoraje «as crianças a aprender a desfrutar da actividade física» e a «reduzir o tempo não-activo, dispendido com a televisão e jogos de computador». Já agora: «preconiza-se que as crianças não passem mais de duas horas por dia nestas actividades e que tenham pelo menos 60 minutos de actividade física diariamente». Parece difícil, mas não é. Como se costuma dizer: primeiro estranha-se, depois entranha-se. Se for adulto, aproveite e adopte os mesmos hábitos – tanto de actividade física, como alimentares; não só as crianças seguirão mais facilmente os mesmas directrizes se um adulto próximo der o exemplo, como, também, a sua própria saúde agradecerá! Sofra ou não de excesso de peso, claro.
Claro que o papel das escolas é, igualmente, «um alicerce fundamental» – opina o pediatra José Luís Fonseca – «não só pelo exemplo dos regimes alimentares fornecidos nas cantinas escolares, como pela sensibilização dos professores aos alunos do facto de estarem em idades muito sensíveis para a educação alimentar e do exercício». O desempenho das escolas, «estando ainda muito longe de ser a que corresponderá a uma evolução positiva nos índices de obesidade infantil, começa a ter traços indicadores de que muita coisa já está a ser feita por esse país fora», considera.
Resumindo, «A prevenção e o controlo do excesso de peso e da obesidade assentam em três pilares: alimentação, actividade física e modificação comportamental», reforça o coordenador nacional da Plataforma de Luta contra a Obesidade, João Breda. «É fundamental a participação da família e da escola num envolvimento promotor de estilos de vida saudáveis». Apenas deste modo se contribui para proteger a saúde, o bem-estar e a auto-estima das crianças – e da família. Agora e no futuro.
Sem comentários:
Enviar um comentário