As dores ao fundo das costas – as chamadas lombalgias – são um dos problemas de saúde mais comuns. Calcula-se que 80 por cento da população tem, pelo menos uma vez na vida, um episódio de lombalgia.
Há vários tipos de dores nas costas: as, mais acima, na zona cervical (cervicalgias), as na zona dorsal (dorsalgias) e, em baixo, na zona lombar – as chamadas lombalgias. As mais comuns são, de longe, as últimas. Tanto que «cerca de 75% a 80% da população tem pelo, menos uma vez na vida, uma crise de lombalgia», constata o ortopedista Rui Delgado, especialista em Lombalgia do Hospital Curry Cabral. Este tipo de dor representa a principal causa de absentismo laboral no nosso país. «São cerca de 1.400.000 horas de trabalho que se perdem por ano», refere o clínico. Apesar de a maioria das lombalgias não ser grave – manifestar-se por episódios agudos que passam ao fim de pouco tempo –, convém alertar para este cenário, até porque, esclarece Rui Delgado, se trata de uma dor muitas vezes prevenível. Há lombalgias que podem ser sintomas de outras patologias, mas «enquanto doença em si mesma, ela não é mais do que uma condição que tem a ver com o estilo de vida».
Causas e factores de risco
Em primeiro lugar, convém distinguir as lombalgias agudas das crónicas. A principal diferença tem, de facto, a ver com a duração de cada uma delas. «A lombalgia aguda ocorre num curto período de tempo; instala-se subitamente, de forma muito intensa e incapacitante, mas geralmente é uma situação que melhora ao fim de algum tempo», esclarece o ortopedista Rui Delgado. Já «a lombalgia crónica, embora tenha períodos de agudização, é um quadro clínico que dura meses ou até anos».
«Geralmente, as lombalgias agudas são mais frequentes no adulto activo, e as crónicas, no indivíduo mais idoso, até porque este, muitas vezes, sofre de artrose na coluna. A degenerescência das articulações, o desgaste muscular, são situações que podem originar dores lombares crónicas, cuja intensidade varia ao longo do tempo».
Está identificada uma das causas de lombalgia. Mas há muitas outras. «Elas são mesmo inúmeras», afirma o especialista do Hospital Curry Cabral. Contudo, a principal causa de dor lombar, principalmente nos adultos jovens, tem mesmo a ver «com o estilo de vida». «Com posturas corporais incorrectas, com o stress, com o excesso de peso ou obesidade, com pouca tonicidade muscular, com a vida sedentária…», resume. «Todos estes factores, perante uma situação propiciadora – como, por exemplo, «levantar um peso com uma postura incorrecta ou dormir numa má posição» –, podem desencadear uma crise de lombalgia.
«A maioria destas situações não é grave», afirma o ortopedista. No entanto, é preciso distinguir a lombalgia enquanto doença em si mesma, da lombalgia enquanto sintoma de outras patologias. «Assim como uma dor de cabeça pode ter estar só relacionada com fadiga, por exemplo, mas pode ser sintoma de muitas outras doenças, há também uma grande variedade de situações que podem desencadear dores nas costas», adverte. Há causas «desde ginecológicas, urinárias, hematológicas, psiquiátricas, digestivas… Uma pessoa pode ter uma lombalgia porque têm uma cólica renal, porque tem uma infecção no aparelho urinário, porque tem uma pancreatite, porque tem um tumor, porque está grávida, ou simplesmente porque tem uma crise de ansiedade…»
Rui Delgado recorda um doente, que foi à sua consulta por causa de uma dor lombar, que, depois, se descobriu ter origem num cancro intestinal. «Neste caso, o problema não era a lombalgia, ela era só um sintoma de uma doença mais grave que o indivíduo tinha».
Contudo, as causas mais frequentes são mesmo de origem músculo-esquelética. Seja devido a uma simples postura incorrecta, por exemplo, seja devido a «casos mais específicos, como quando existe uma infecção na coluna, uma fractura, um defeito numa vértebra, uma hérnia discal…».
Prevenção e recuperação
Umas e outras causas exigem, claro, tratamentos diferenciados, que dependem, também, «da intensidade da dor, da duração do problema, da idade do doente», refere o ortopedista. Podem ir desde os fármacos – como analgésicos, anti-inflamatórios – até, nos casos mais graves e crónicos, à cirurgia.
Terapias alternativas: sim ou não? O especialista em lombalgia do Hospital Curry Cabral, advertindo que não conhece bem os fundamentos, por exemplo, da acupunctura ou da osteopatia, não é contra: «se o doente estiver confiante nesse tipo de tratamento», até o incentiva. «Acho que é uma questão de confiança».
Uma medida que Rui Delgado costuma aconselhar aos seus pacientes, principalmente aos mais idosos, é a hidroginástica. «Tem grandes vantagens: como é feita dentro de água, a gravidade tem uma influência menor sobre o corpo, e as articulações esforçam-se menos, mas os músculos têm de trabalhar mais. Por outro lado, a água quente da hidroginástica também é um relaxante muscular.» O especialista refere: «Nenhum dos doentes a quem recomendei esta modalidade se deu mal; não houve nenhum que não melhorasse.» E é normal, porque o exercício físico, fortalecendo os músculos e os ligamentos, torna a coluna mais apta a suportar as incorrecções do dia-a-dia.
A actividade física é, de resto, uma prática que o ortopedista aconselha, quer para tratar dores lombares, quer para as evitar. «A prevenção das lombalgias passa muito por ter uma vida mais activa fisicamente, por melhorar a mobilidade articular e a tonicidade dos músculos. O exercício físico não evitará todas as situações, mas eu tenho vários tipos de doentes que, ao iniciarem a prática de exercício, melhoraram o seu quadro clínico. Claro que tem de ser adequado à sua idade e à sua condição».
Por isso, a actividade física deve fazer-se sob a supervisão de um médico ou fisioterapeuta. Mas, de um modo geral, «praticar exercício duas vezes por semana é indispensável», aconselha Rui Delgado. As melhores modalidades são o andar a pé, de bicicleta e a natação. Mas, se optar por outra modalidade não esqueça de que não deve impor uma grande sobrecarga à região lombar, e deve contemplar o exercício dos músculos abdominais e lombares. «Não é só trabalho de braços e pernas, mas também dos abdominais e lombares, porque são esses músculos que estabilizam a coluna lombar».
As restantes recomendações do especialista para prevenir as dores lombares, além do «exercício físico para melhorar a tonicidade muscular», passam por «evitar o excesso de peso corporal e corrigir a postura».
Mudar a postura… com que se encara a lombalgia
O especialista do Hospital Curry Cabral aponta que, apesar de, muitas vezes, a lombalgia – aguda – melhorar e até desaparecer ao fim de uns tempos só com repouso, sem ser necessário recorrer a fármacos ou a outras medidas, é «frequente encontrarmos doentes com dores há algum tempo – dias ou semanas – que, no entanto, estão submedicados». «Por exemplo», observa, «não se medica uma lombalgia com pomadas; não faz sentido». O médico considera que «há doentes e até mesmo colegas clínicos que não valorizam a dor como sintoma e a tratam até de uma forma insuficiente».
Por outro lado, reconhece o ortopedista, a dor lombar é, por vezes, sobrevalorizada pelos próprios doentes. «Um indivíduo que apanhou algo do chão com uma postura incorrecta, e fez um desequilíbrio muscular, ficando com uma dor, deve, em vez de ir logo preocupado para as urgências, tomar pequenas medidas. Por exemplo: tomar um paracetamol, tomar um banho quente (porque o calor húmido é relaxante muscular), repousar. Às vezes, basta uma boa noite de sono, para a dor passar».
No fundo, Rui Delgado recomenda bom senso no modo com que se encara a lombalgia. Que é frequente e não se deve desvalorizar, mas que, na maioria dos casos, é felizmente, benigna. De qualquer modo, conclui, «se a queixa for muito prolongada ou for súbita e muito intensa, a observação pelo médico tem de ser feita».
Causas e factores de risco
Em primeiro lugar, convém distinguir as lombalgias agudas das crónicas. A principal diferença tem, de facto, a ver com a duração de cada uma delas. «A lombalgia aguda ocorre num curto período de tempo; instala-se subitamente, de forma muito intensa e incapacitante, mas geralmente é uma situação que melhora ao fim de algum tempo», esclarece o ortopedista Rui Delgado. Já «a lombalgia crónica, embora tenha períodos de agudização, é um quadro clínico que dura meses ou até anos».
«Geralmente, as lombalgias agudas são mais frequentes no adulto activo, e as crónicas, no indivíduo mais idoso, até porque este, muitas vezes, sofre de artrose na coluna. A degenerescência das articulações, o desgaste muscular, são situações que podem originar dores lombares crónicas, cuja intensidade varia ao longo do tempo».
Está identificada uma das causas de lombalgia. Mas há muitas outras. «Elas são mesmo inúmeras», afirma o especialista do Hospital Curry Cabral. Contudo, a principal causa de dor lombar, principalmente nos adultos jovens, tem mesmo a ver «com o estilo de vida». «Com posturas corporais incorrectas, com o stress, com o excesso de peso ou obesidade, com pouca tonicidade muscular, com a vida sedentária…», resume. «Todos estes factores, perante uma situação propiciadora – como, por exemplo, «levantar um peso com uma postura incorrecta ou dormir numa má posição» –, podem desencadear uma crise de lombalgia.
«A maioria destas situações não é grave», afirma o ortopedista. No entanto, é preciso distinguir a lombalgia enquanto doença em si mesma, da lombalgia enquanto sintoma de outras patologias. «Assim como uma dor de cabeça pode ter estar só relacionada com fadiga, por exemplo, mas pode ser sintoma de muitas outras doenças, há também uma grande variedade de situações que podem desencadear dores nas costas», adverte. Há causas «desde ginecológicas, urinárias, hematológicas, psiquiátricas, digestivas… Uma pessoa pode ter uma lombalgia porque têm uma cólica renal, porque tem uma infecção no aparelho urinário, porque tem uma pancreatite, porque tem um tumor, porque está grávida, ou simplesmente porque tem uma crise de ansiedade…»
Rui Delgado recorda um doente, que foi à sua consulta por causa de uma dor lombar, que, depois, se descobriu ter origem num cancro intestinal. «Neste caso, o problema não era a lombalgia, ela era só um sintoma de uma doença mais grave que o indivíduo tinha».
Contudo, as causas mais frequentes são mesmo de origem músculo-esquelética. Seja devido a uma simples postura incorrecta, por exemplo, seja devido a «casos mais específicos, como quando existe uma infecção na coluna, uma fractura, um defeito numa vértebra, uma hérnia discal…».
Prevenção e recuperação
Umas e outras causas exigem, claro, tratamentos diferenciados, que dependem, também, «da intensidade da dor, da duração do problema, da idade do doente», refere o ortopedista. Podem ir desde os fármacos – como analgésicos, anti-inflamatórios – até, nos casos mais graves e crónicos, à cirurgia.
Terapias alternativas: sim ou não? O especialista em lombalgia do Hospital Curry Cabral, advertindo que não conhece bem os fundamentos, por exemplo, da acupunctura ou da osteopatia, não é contra: «se o doente estiver confiante nesse tipo de tratamento», até o incentiva. «Acho que é uma questão de confiança».
Uma medida que Rui Delgado costuma aconselhar aos seus pacientes, principalmente aos mais idosos, é a hidroginástica. «Tem grandes vantagens: como é feita dentro de água, a gravidade tem uma influência menor sobre o corpo, e as articulações esforçam-se menos, mas os músculos têm de trabalhar mais. Por outro lado, a água quente da hidroginástica também é um relaxante muscular.» O especialista refere: «Nenhum dos doentes a quem recomendei esta modalidade se deu mal; não houve nenhum que não melhorasse.» E é normal, porque o exercício físico, fortalecendo os músculos e os ligamentos, torna a coluna mais apta a suportar as incorrecções do dia-a-dia.
A actividade física é, de resto, uma prática que o ortopedista aconselha, quer para tratar dores lombares, quer para as evitar. «A prevenção das lombalgias passa muito por ter uma vida mais activa fisicamente, por melhorar a mobilidade articular e a tonicidade dos músculos. O exercício físico não evitará todas as situações, mas eu tenho vários tipos de doentes que, ao iniciarem a prática de exercício, melhoraram o seu quadro clínico. Claro que tem de ser adequado à sua idade e à sua condição».
Por isso, a actividade física deve fazer-se sob a supervisão de um médico ou fisioterapeuta. Mas, de um modo geral, «praticar exercício duas vezes por semana é indispensável», aconselha Rui Delgado. As melhores modalidades são o andar a pé, de bicicleta e a natação. Mas, se optar por outra modalidade não esqueça de que não deve impor uma grande sobrecarga à região lombar, e deve contemplar o exercício dos músculos abdominais e lombares. «Não é só trabalho de braços e pernas, mas também dos abdominais e lombares, porque são esses músculos que estabilizam a coluna lombar».
As restantes recomendações do especialista para prevenir as dores lombares, além do «exercício físico para melhorar a tonicidade muscular», passam por «evitar o excesso de peso corporal e corrigir a postura».
Mudar a postura… com que se encara a lombalgia
O especialista do Hospital Curry Cabral aponta que, apesar de, muitas vezes, a lombalgia – aguda – melhorar e até desaparecer ao fim de uns tempos só com repouso, sem ser necessário recorrer a fármacos ou a outras medidas, é «frequente encontrarmos doentes com dores há algum tempo – dias ou semanas – que, no entanto, estão submedicados». «Por exemplo», observa, «não se medica uma lombalgia com pomadas; não faz sentido». O médico considera que «há doentes e até mesmo colegas clínicos que não valorizam a dor como sintoma e a tratam até de uma forma insuficiente».
Por outro lado, reconhece o ortopedista, a dor lombar é, por vezes, sobrevalorizada pelos próprios doentes. «Um indivíduo que apanhou algo do chão com uma postura incorrecta, e fez um desequilíbrio muscular, ficando com uma dor, deve, em vez de ir logo preocupado para as urgências, tomar pequenas medidas. Por exemplo: tomar um paracetamol, tomar um banho quente (porque o calor húmido é relaxante muscular), repousar. Às vezes, basta uma boa noite de sono, para a dor passar».
No fundo, Rui Delgado recomenda bom senso no modo com que se encara a lombalgia. Que é frequente e não se deve desvalorizar, mas que, na maioria dos casos, é felizmente, benigna. De qualquer modo, conclui, «se a queixa for muito prolongada ou for súbita e muito intensa, a observação pelo médico tem de ser feita».
Posturas corporais correctas
- Em pé: ter a cabeça e tronco direitos, peito para fora, caminhando de uma forma que permita a distribuição do peso corporal pelas duas pernas.
- Sentado(a): apoiar bem as costas na cadeira, ter os pés bem assentes no chão, com os joelhos flectidos em ângulos rectos (a manutenção de uma boa postura também depende da existência de mobiliário ergonomicamente adaptado ao corpo).
- Deitado(a): o colchão deve ser firme, duro ou num colchão de água, sempre com uma almofada não muito baixa.
- Ao levantar um peso: segurá-lo junto ao corpo, dobrar só os joelhos, deixar as pernas levantá-lo fazendo o movimento de levantar ou baixar sempre com o corpo direito.
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